Fernando Nobre comenta como uma rotina de trabalho excessivo, sem distrações, tem causado afastamentos em massa de trabalhadores
O número de afastamentos do trabalho devido a episódios depressivos, Casos de afastamentos do trabalho devido, transtornos de ansiedade, reações ao estresse e outros problemas de saúde mental mais que dobrou em uma década, passando de 203 mil em 2014 para 440 mil em 2024, conforme dados do Ministério da Previdência Social.
Jornadas longas e saúde mental
Apesar da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prever uma jornada semanal de 44 horas, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) aponta que 10% dos trabalhadores brasileiros cumpriram jornadas de 49 horas ou mais em 2024. A Organização Mundial da Saúde (OMS) informa que um terço das doenças relacionadas ao trabalho está associado a longas jornadas laborais.
Impactos das longas jornadas: Em 2024, quase 9% da população mundial, equivalente a 488 milhões de pessoas, trabalhou 55 horas ou mais por semana, o que foi relacionado a mais de 745 mil mortes por acidente vascular cerebral (AVC) e doenças cardíacas, como infarto do miocárdio. Segundo a OMS, longas jornadas aumentam em 35% o risco de AVC e em 17% o risco de morte por doença cardíaca, em comparação a uma semana de trabalho de 35 a 40 horas.
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Excesso de trabalho além das horas oficiais: A diretora científica da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, doutora Rosilene Rocha, explica que o excesso de trabalho pode ocorrer mesmo dentro das 44 horas previstas pela CLT, pois os parâmetros consideram apenas o tempo efetivamente trabalhado, sem incluir deslocamentos ou pausas obrigatórias, como o almoço. Isso pode levar o trabalhador a dedicar mais horas ao trabalho, prejudicando o descanso, cuidados com a saúde e relações interpessoais.
Consequências fisiológicas e comportamentais: Longas jornadas de trabalho provocam respostas fisiológicas ao estresse, como aumento dos níveis de cortisol e açúcar no sangue, além de alterações no sistema imunológico. A exposição prolongada ao estresse pode causar hipertensão, dores de cabeça, sintomas de ansiedade e depressão, problemas digestivos, doenças cardíacas, AVC e distúrbios do sono. Além disso, trabalhadores submetidos a jornadas extensas tendem a adotar comportamentos prejudiciais à saúde, como maior consumo de cigarro e álcool, menos horas de sono e dieta inadequada.
Um estudo coreano indicou que trabalhar 52 horas ou mais por semana pode afetar regiões cerebrais relacionadas à resolução de problemas e à regulação emocional. A reflexão sobre os efeitos do excesso de trabalho já era feita por Aristóteles, que viveu no século IV a.C., ao afirmar que o trabalho excessivo leva ao esgotamento físico e mental, prejudicando o raciocínio e a vida.
Informações adicionais
Os dados apresentados são baseados em informações divulgadas pelo Ministério da Previdência Social, Organização Internacional do Trabalho e Organização Mundial da Saúde. Não foram divulgados detalhes sobre os métodos específicos dos estudos mencionados.